Na noite passada provavelmente alguém não dormiu bem no centro de Santa Maria. Ou em Val de Serra. Ou em Porto Alegre ou mesmo em Tóquio. A insônia é uma ocorrência frequente e ocasionalmente pode acontecer a qualquer um de nós, pelas mais diversas razões. Por estarmos ansiosos com uma viagem, um encontro ou uma entrevista de trabalho. E isso é normal.
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Porém, quando a insônia se torna um problema frequente – 2 a 3 vezes por semana, por um período de cerca de 3 meses, podemos estar diante de um dilema clínico que tem importante impacto no cotidiano da pessoa, na sua capacidade laboral e certamente na sua qualidade de vida. A insônia é caracterizada por uma insatisfação na qualidade do sono ou na sua duração, com a pessoa tendo dificuldade para pegar no sono ou permanecer adormecida, segundo artigo de revisão publicado recentemente na importante revista New England Journal of Medicine.
O artigo faz uma extensa revisão sobre a insônia e as diversas formas de lidar com o problema. Os idosos tendem a apresentar insônia com mais frequência que a população mais jovem. Além da “arquitetura do sono” ser diferente em idosos, pois eles tendem a ter um sono mais superficial, de mais curta duração e com um número maior de microdespertares; a frequência de comorbidades é maior, o que funciona como complicador para que a pessoa consiga readquirir um padrão de sono normal, ou seja, satisfatório.
Dor crônica
Dor crônica é um dos fatores que interfere no sono, juntamente com outras patologias, como por exemplo, a síndrome das pernas inquietas e a síndrome da apneia obstrutiva do sono. Estes problemas devem ter seu tratamento individualizado, pois somente o uso de técnicas ou de medicamentos específicos para indução do sono – “os soníferos”, não costumam ser o suficiente para que a pessoa volte a ter um sono satisfatório e restaurador.
Quando a insônia se torna um problema médico, se torna algo de manejo bastante complexo e desafiador. A compreensão dos mecanismos da insônia e sua abordagem individualizada, procurando-se entender de forma particularizada os padrões da dificuldade para dormir vão permitir que se tenha maior ou menor sucesso nas proposições terapêuticas. Um dos problemas é que a queixa de insônia costuma se seguir da prescrição de um medicamento, e os medicamentos para insônia deveriam ser usados por curtos períodos de tempo e em doses baixas. E não é o que costuma acontecer.
Medicamentos
Uma das questões é que nem todos os médicos estão suficientemente preparados para lidar com um problema cuja complexidade costuma ser crescente, a medida em que o tempo passa e o problema cronifica. Embora existam vários medicamentos capazes de induzir ao sono, a maior parte deles não é isenta de efeitos adversos a curto e longo prazo. E a expectativa da pessoa portadora de insônia é de uma substância que resolva seu problema de maneira rápida e segura. Infelizmente nenhum medicamento oferece esta possibilidade.
Ao contrário, seu uso prolongado – e novamente os idosos formam um grupo mais vulnerável – pode levar a reações adversas como sonolência diurna, fraqueza, dificuldades de memória e o que mais se teme, que são as quedas e as fraturas. Uma fratura de quadril pode ser um ponto de inflexão na vida de um idoso que vinha mantendo uma razoável qualidade de vida e autonomia, mergulhando-o em situações de dependência, com frequente necessidade de hospitalizações e cirurgias e todas as graves consequências que podem advir de um evento desta magnitude.
Boa noite a todos!
Abordagens como as terapias cognitivo-comportamentais são sugeridas como alternativas para o manejo da insônia crônica, mas são poucos os profissionais disponíveis e treinados para a aplicação destas técnicas. A chamada “higiene do sono”, que propõe uma série de atitudes que permitam um sono regular e satisfatório, e que faz parte de uma vida saudável, com hora para dormir e acordar, prática regular de atividade física em horários adequados, moderação no consumo de álcool, alimentação equilibrada, evitação de estimulantes como cafeína e chimarrão a partir de determinados horários são essenciais na prevenção e na abordagem não farmacológica da insônia. Um sono satisfatório e reparador pode até estar associado à longevidade e ajuda na prevenção e tratamento de doenças como a hipertensão.
O que desejamos é uma boa noite a todos!